quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Batalha da Azenha

Milhares de pessoas passam todos os dias pela famosa ponte da Azenha em Porto Alegre, que atravessa o Arroio Dilúvio da Avenida Ipiranga. Acostumadas a passar por aquele lugar no corre-corre do dia-a-dia, muita gente não se dá conta da importância histórica daquele local. Foi ali que se travou a primeira batalha da Revolução Farropilha, que mais tarde, após a declaração da independência da República Rio-Grandense, passaria a se chamar "Guerra" dos Farrapos, já que a partir de então seria um conflito entre duas nações soberanas.

Existiam moinhos perto da ponte, que eram chamados de azenhas desde os primeiros habitantes açorianos. Entre os comerciantes que fabricavam farinha, um dos mais conhecidos foi o português Francisco. Por isso, a ponte também é conhecida como Ponte do Chico da Azenha.

O General Bento Gonçalves, líder máximo da Revolução, planejou tudo na estância de Pedras Brancas, separada de Porto Alegre pelo Guaíba. Lá morava o capitão José Gomes Jardim, e a sua casa foi transformada numa espécie de quartel general farroupilha. Da estância, partiu uma tropa em direção ao morro atrás da Azenha na noite de 19 de setembro de 1835, que em pouco tempo ficou povoado de tendas militares. No dia seguinte, o plano era descer para invadir Porto Alegre.

Chegavam notícias ao presidente da Província Antônio Fernandes Braga (o Governador dos dias de hoje) , de que a guerra estava prestes a começar. Muitos soldados da Guarda Nacional do Império Brasileiro teriam aderido aos farroupilhas juntamente com peões de outras estâncias, e com a ausência do comandante de armas naquela noite, marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto, que havia viajado para a Fronteira com 70 homens, a capital estava desguarnecida.

Antônio F.Braga

O presidente Braga, às pressas, chamou o comandante da Legião da Guarda Nacional Visconde de Camamu para organizar a resistência. Camamu saiu disposto a encontrar voluntários para tentar surpreender os farrapos acampados no morro. Acontece que a maioria da população era a favor dos Farrapos, ainda mais com o anúncio recente de Braga sobre um aumento nos impostos sobre as estâncias e charqueadas. Os cidadãos que não se juntaram aos farrapos, ou fugiram para as suas chácaras, ou trancaram-se em suas casas.

Segundo o autor Carlos Urbim (Os Farrapos, 2008), Braga caminhava nervoso pelas salas do palácio, enquanto Camamu partia em direção à Azenha com os únicos 20 voluntários que conseguira recrutar. Dentre eles, estavam o brigadeiro veterano Alves Leite e o editor de um jornal imperialista, Antônio José Monteiro, o Prosódia.
No alto do morro da Azenha, aproximadamente 200 farroupilhas. Onofre Pires, primo de Bento Gonçalves, ordenou que o Cabo Rocha descesse até a Ponte da Azenha com mais 3 homens para vasculhar a área. Sob a escuridão da noite, as casas trancadas, um ou outro cachorro latia. Ao chegar na ponte, Cabo Rocha avistou vultos. Eram os homens de Camamu! Quatro farrapos contra mais de 20 imperiais! Cabo Rocha não se intimidou, ordenou o ataque! A GUERRA ESTAVA COMEÇANDO!!!
Visconde de Camamu foi atacado e caiu do cavalo ao ser ferido por uma lança no ombro. Prosódia recebeu uma estocada fatal no peito e, atropelado por cavalos, morreu gritando na beira do arroio. Alves Leite, prensado na ponte por dois soldados a cavalo, se jogou lá de cima e acabou morrendo entre galhos e arbustos. Ao ver tudo isso, imaginando que eram centenas de soldados farrapos, o restante dos homens de Camamu saíram correndo e se dispersaram pelas casas mais próximas pedindo socorro. Ferido, sem cavalo, Camamu se arrastou pela Várzea, na escuridão, rasgando a roupa entre os arbustos e os espinheiros do caminho. Sem a espada e os detalhes que enfeitavam o fardamento, Camamu teve dificuldade para se identificar aos sentinelas do palácio do presidente Fernandes Braga. Ao entrar sangrando no palácio, Camamu precisou ser amparado por 2 escravos. Era o quadro da dor! Para superar a vergonha e a humilhação de ter perdido para 4 farroupilhas, o visconde aumentou o tamanho do exército farrapo:
"Presidente, são mais de mil homens! Lutamos, tivemos baixas, fomos obrigados a voltar".
No alto do morro, depois de receber o relato do Cabo Rocha sobre o que tinha acontecido na Ponte do Chico da Azenha, José Gomes Jardim escreveu um bilhete para ser levado até a sua estância em Pedras Brancas, para ser entregue a Bento Gonçalves, que havia ficado no improvisado quartel general.
"Fomos muito bem no negócio da farinha. Aguardamos sua palavra para negociar na Capital. Seria bom mandar mais gente e cavalos para o transporte das barricas".
O cabo Sílvio Jardim, filho de Gomes Jardim, foi encarregado pelo pai a levar o recado até Bento. Ele deveria chegar até Pedras Brancas antes do amanhecer. Teve sorte, não foi visto por nenhum inimigo. Bento elogiou a bravura do rapaz:
"O bilhete que trouxeste fala da farinha da liberdade. Diz para eles que podem tomar Porto Alegre hoje mesmo. Amanhã eu me encontro com vocês no palácio do governo".
Agora, Sílvio faria o caminho inverso com o dia clareando para levar o recado aos farroupilhas que estavam no morro da Azenha.
Estava nascendo o glorioso de 20 de setembro!

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo registro